AS FUNÇÕES DA LINGUAGEM
Ao realizar um ato de comunicação verbal, o produtor da mensagem escolhe, seleciona as palavras, para depois organizá-las, combiná-las, conforme a sua vontade. E todo esse trabalho de seleção e combinação não é aleatório, não é realizado por acaso, mas está diretamente ligado à intenção do emissor.
Ao elaborarmos uma mensagem, dependendo da nossa intenção, do sentido que quisermos dar a ela, podemos enfatizar um desses fatores, definindo seu caráter. Daí resultam as funções da linguagem.
FUNÇÃO REFERENCIAL OU DENOTATIVA
É a mais comum das funções da linguagem e centra-se na informação, ou seja, no contexto ou referente. A intenção do emissor de uma mensagem em que predomina essa função é transmitir dados da realidade ao interlocutor de forma direta e objetiva, sem ambigüidades. Essa é a função da linguagem que prevalece em textos dissertativos, técnicos, instrucionais, jornalísticos.
Como está centrada no referente, normalmente há o predomínio da terceira pessoa, com frases estruturadas na ordem direta e linguagem denotativa (a função referencial também é chamada denotativa).
FUNÇÃO CONATIVA OU APELATIVA
Quando a intenção do produtor da mensagem é influenciar, envolver, persuadir o destinatário; quando a mensagem se organiza em forma de ordem, chamamento, apelo ou súplica, temos a função conativa da linguagem (também chamada de apelativa).
Para tentar persuadir o destinatário, é preciso, antes de mais nada, falar a língua dele, apelar para exemplos e argumentos significativos em relação a sua classe social, a sua formação cultural, a seus sonhos e desejos. Cada leitor deve ter a sensação de que o texto foi escrito especialmente para ele, como se fosse uma conversa a dois. Observe que conativo significa “relativo ao processo da ação intencional sobre outra pessoa”.
Gramaticalmente, a função conativa se caracteriza pelo emprego de verbos no imperativo e uso de vocativos.
É a função predominante nos textos de propaganda comercial, política ou religiosa.
FUNÇÃO EMOTIVA OU EXPRESSIVA
Quando a intenção do produtor do texto é posicionar-se em relação ao tema de que está tratando, é expressar seus sentimentos e emoções, o texto resultante é subjetivo, um espelho do ânimo, das emoções, do temperamento do emissor. Nesse caso, temos a função emotiva da linguagem (também chamada de função expressiva).
A estrutura da mensagem centrada no emissor revela-se em algumas marcas gramaticais: verbos e pronomes em primeira pessoa, interjeições, adjetivos valorativos, alguns sinais de pontuação, como as reticências e os pontos de exclamação.
Depoimentos, entrevistas, narrativas de caráter memorialista, diários, críticas subjetivas de cinema, teatro, música e demais manifestações artísticas, entre outras formas, são tipos de texto em que a função emotiva é fundamental.
FUNÇÃO METALINGÜÍSTICA
Quando a preocupação do emissor está voltada para o próprio código utilizado, ou seja, o código é o tema da mensagem ou é utilizado para explicar o próprio código, temos a função metalingüística ou metalinguagem.
Nos textos verbais, o código é a língua. Quando, numa mensagem verbalizada, usamos a língua para explicar a língua, ocorre metalinguagem. E isso acontece inúmeras vezes em nosso cotidiano: nas conversas informais, ou mesmo durante as aulas, quando questionamos o nosso interlocutor sobre algo que ele nos conta ou nos explica (“Não estou entendendo... o que você quer dizer com isso?”; “Dá para explicar mais uma vez?; etc.), a resposta será, inevitavelmente, um texto metalingüístico. As construções explicativas do tipo “isto é” ou “ou seja” também introduzem textos metalingüísticos.
Por utilizarem palavras para explicar as palavras, também são exercícios metalingüísticos as definições, os dicionários e as gramáticas (em forma de livro ou em aulas expositivas). Durante nossa vida de estudante, é muito comum a utilização da função metalingüística da linguagem: a análise de um texto, por exemplo, é um exercício de metalinguagem.
Em outras palavras (já que o tema é metalinguagem), sempre que a linguagem falar da linguagem, temos metalinguagem. É o que ocorre, por exemplo, quando um filme tem por tema o próprio cinema, uma peça de teatro tem por tema o teatro, um poema discorre sobre o fazer poético, etc. da mesma forma, considera-se metalingüístico todo texto que faz referência a outro texto. Na literatura, são comuns os textos que dialogam com outros textos já consagrados, seja para uma reafirmação das idéias, seja para questionar ou mesmo parodiar o texto anterior.
FUNÇÃO FÁTICA
Em alguns casos, percebe-se que a preocupação do emissor é manter contato com o destinatário, prolongando uma comunicação ou então testando o canal com frases do tipo: “Veja bem” ou “Olha...” ou “Compreende?...” Serve, portanto, para iniciar, prolongar, testar ou terminar a comunicação. Essa preocupação com o contato (o canal) caracteriza a função fática da linguagem.
Um bom exemplo do emprego da função fática são as conversas ao telefone, pontuadas por expressões do tipo “Está me ouvindo?” ou “Sim... sei...” ou “Hum.. hum...”, em que se testa o canal físico (no caso, a linha telefônica).
FUNÇÃO POÉTICA
Quando a intenção do produtor do texto está voltada para a própria mensagem, para uma especial arrumação das palavras, quer na escolha, quer na combinação delas, quer na organização sintática da frase, temos a função poética da linguagem. Ao selecionar e combinar de maneira particular e especial as palavras, o produtor da mensagem busca alguns elementos fundamentais: ritmo, sonoridade, o belo e o inusitado das imagens, valores conotativos, figuras de palavras. Num texto poético você poderá encontrar também as demais funções da linguagem, mas o valor da poesia reside exatamente no trabalho realizado com a própria mensagem.
Importante é perceber que a função poética não é exclusiva da poesia. Pode ser encontrada em textos escritos em prosa, em anúncios publicitários, em slogans, em ditados e provérbios, e mesmo em certas construções de nossa linguagem cotidiana.